Aqui há uns tempos fui acometida por uma tosse seca noctívaga. Daquelas matreiras que desaparecem durante o dia e atacam durante a noite com força suficiente para nos limpar o sebo entre um cof e o outro. Uma pessoa normal teria comprado um xarope, eu comprei a lifetime supply de rebuçados Dr. Bayard. Uma pessoa normal, depois de ter comprado o xarope, tomaria uma dose de xis em xis horas, durante o tempo que fosse necessário. Eu, a meio de um ataque violento e cobarde, cambaleava até ao pacote de rebuçados, metia um na boca, dizia dois ou três palavrões e voltava a deitar-me. Na terceira noite concluí que o melhor era comprar a porra do xarope. Mentira!!! Na terceira noite concluí, sim, que o melhor lugar para guardar o pacote de rebuçados era em cima da mesa de cabeceira, à distância de um curto movimento braçal. E foi precisamente nessa noite que voltei a adormecer antes de acabar o puto do rebuçado. Momentos depois, acordei com ele entalado na garganta (o rebuçado, o rebuçado...). Entre movimentos frenéticos de braços e pernas, lá consegui escarrar o cabrão do Dr. Bayard. Isn't it ironic? Eu, que queria proporcionar uma noite descansada à pessoa que dormia a meu lado, quase lhe permiti a experiência de acordar side by side com um cadáver de olhos esbugalhados.
E agora vem a parte menos pedagógica deste episódio, que bem podia ter acabado ao jeito de um creepy tale de Sir. Edgar Allan Poe: a tosse passou duas ou três noites depois. E eu, assim, nunca hei-de ser uma pessoa normal.