Longos minutos a googlar fotografias de um e de outro. Tinham de ser as fotografias perfeitas, caso contrário poria em risco o objectivo supremo da coisa. Aquela visão momentânea - que nas mentes brilhantes ocorre de tempos a tempos - tinha de encontrar o veículo perfeito para ser transmitida aos demais, aos menos afortunados nisso das visões, aos menos brilhantes. Distraio-me com um barulho extremamente irritante que vem da rua. Ah, é a vizinha adolescente que todas as noites é devolvida ao lar da pitoresca família num automóvel a condizer com o seu condutor supéchique. Diz que é tuning. Com um enérgico aceno de cabeça, afasto de mim pensamentos relacionados com o casal, o tunning e os desvios comportamentais da pitoresca família, para voltar a concentrar-me na minha tarefa de nível intelectual superior. Findo o enérgico aceno de cabeça, abro os olhos e dou de caras com um link. Splash!- sinto uma bofetada psicológica a trespassar a minha mente brilhante e a apagar, uma a uma, as suas luzinhas cintilantes. Está escuro! Sinto um arrepio de frio! Quero a minha mãe!!... Recomponho-me, clico para confirmar a humilhação. Confirma-se: milhares de pessoas antes de mim já tinham percebido que o Jorge Jesus e a Camilla Parker Bowles são parecidos e, sim, pelo menos metade dessas pessoas já tinham feito aquela brincadeira do "separados à nascença". A banda sonora para este momento de autocomiseração é perfeita: um contínuo e poderoso ronronar mecânico que persiste na rua, seguido de dois ou três vrums um pouco mais estridentes, antes de arrancar. Este modus operandi, hoje, parece-me uma provocação. Sim, aposto que até eles já tinham percebido as parecenças entre as duas criaturas loiras. Afasta-se, mais ou menos a meio da rua deixa o automóvel soltar dois traques. Aposto que são para mim.
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