terça-feira, 5 de julho de 2011

A culpa é do meu professor de química do oitavo ano

Os últimos dias têm sido proveitosos para aqueles que se alimentam do infortúnio alheio. Para os abutres e sanguessugas que se meneiam entre nós disfarçados de pessoas. Para os mais distraídos é difícil reconhecer estes mutantes, mas eles andam aí. Praticam uma espécie de voyeurismo mentecapto da desgraça daqueles com quem teimam misturar-se - as pessoas, na verdadeira acepção da palavra. É certo que não têm uma vida fácil - as desgraças que policiam, atrás da moita, nunca provocam o cataclismo que, a seus olhos, seria justo. É natural que isto lhes traga uma certa frustração. Uma frustração que cresce e que só se apazigua com uma ou outra desgraça que acabe, por exemplo, no corte de um salário de um funcionário público - esses reles. Não importa se é competente ou não, se é produtivo ou não, o que importa é que é funcionário público e vai ficar sem uma parte do vencimento. Era bem melhor se fosse logo todo de uma vez. Zeros euros na conta para ele aprender. Despedido, é isso, devia ser despedido!
A esperança de que este despedimento aconteça num futuro próximo trás-lhes algum conforto. Mas é um conforto absolutamente incomparável com a satisfação de saber que um jovem mediático, bonito, e bem sucedido, morreu ao volante de um carro. Chegam mesmo a soltar um "bem feita", ou um "teve o que merecia". Se conseguíssemos esquecer o «pormaior» de que estes desabafos são proferidos por mutantes, quase nos sentiríamos tentados a analisar a profundeza lexical deste discurso quase monossilábico. Mas aí estaríamos a ser mesquinhos, e nós - PESSOAS - não somos assim, certo?

Lamento profundamente não ter prestado mais atenção nas aulas de química do oitavo ano - coisa que me impossibilitou de criar empatia com a área, nos anos que se seguiram. Tivesse a coisa acontecido de outra forma e imagino que, agora, envergaria uma bata branca, num qualquer laboratório europeu ou, quiçá, norte-americano, buscando freneticamente um antídoto que pudesse aniquilar estes mutantes.

3 comentários:

  1. acho que é mais ao contrário. os mutantes são pessoas que pensam como tu, e como eu que também já falei disso mesmo. porque vejo por aí muita alminha que fica feliz co mal dos outros. falta duma coisa que eu cá sei.

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  2. Finalmente estás de volta, revoltada, mas de volta!

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