A minha mãe diz que não tem medo desta crise. Sabe que as coisas estão más mas também sabe que é impossível ficarem tão más como noutras crises passadas. Noutras a que ela já sobreviveu. E eu nem precisei de abrir a boca porque, depois de dois ou três exemplos dela, fui obrigada a concordar. Não vou entrar em pormenores porque, não nutrindo vossas excelências qualquer tipo de afecto pela minha mãe, isso seria coisa para vos maçar. Mas eu, que amo a minha mãe mais do que tudo no mundo, senti um nó na garganta quando ela me disse que já tinha caminhado descalça na neve. Não consigo sequer imaginar como será caminhar descalça pela neve. Calculo que a sensação vá para além do desconforto. Calculo que esteja mais perto da dor, do desespero. A minha mãe não tem muitas fotografias de quando era pequena - assim como nenhuma das crianças que nasceram na década de 40, no interior isolado do nosso país - mas há uma do dia em que fez a primeira comunhão. Foi essa figura singela da fotografia, de vestido branco e pés descalços, que eu imaginei caminhando descalça pela neve, enquanto a minha mãe me ia explicando que, quando abria a porta, primeiro punha um pé, até ele se habituar à temperatura, e só depois o outro. E senti uma tristeza enorme dentro de mim. E apeteceu-me viajar no tempo e ir ajudar aquela criança da fotografia. Aquela criança que um dia viria a ser a minha mãe. A minha mãe! Provavelmente, foi nesta altura que ela percebeu os meus olhos marejados de lágrimas e rematou, num tom estrategicamente irónico e brincalhão: «já era adolescente quando usei pela primeira vez uns sapatos meus. Imagina o tempo que tu pouparias, de manhã, a combinar a cor dos sapatos com o resto da roupa...» E eu, enquanto engolia o nó, retribuí usando a mesma estratégia: «ah, mas tu agora também tens muitos sapatos...» «Pois tenho! Passei do 8 ao 80... Eu e mais dez milhões de portugueses. O resultado está à vista, não está?!» E eu calei-me.
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segunda-feira, 16 de abril de 2012
domingo, 21 de agosto de 2011
Lavámos a alma!
Mãe (enquanto me fitava os movimentos em frente do pc, com ar de adoração): Quem me dera saber "navegar"...
(Eu olhei-a e não disse nada - uma vez que o meu cérebro ainda estava a tentar digerir o facto de ela dominar o termo "navegar")
Mãe (com o mesmo ar de adoração, agora misturado com uma pitada de ironia): Oh... eu nem sequer sei nadar, quanto mais "navegar"...
Obviamente, este pequeno monólogo de mamãe acabou numa gargalhada histérica (minha e dela)...
(Eu olhei-a e não disse nada - uma vez que o meu cérebro ainda estava a tentar digerir o facto de ela dominar o termo "navegar")
Mãe (com o mesmo ar de adoração, agora misturado com uma pitada de ironia): Oh... eu nem sequer sei nadar, quanto mais "navegar"...
Obviamente, este pequeno monólogo de mamãe acabou numa gargalhada histérica (minha e dela)...
domingo, 1 de maio de 2011
Lamento desiludir-vos mas...
A minha mãe é (mesmo) a melhor do mundo!
Amo-te tanto mãe!
PS: Feliz Dia da Mãe para as vossas também! :)
segunda-feira, 28 de março de 2011
PFIAGRAPHIC
Qual é a probabilidade de uma senhora de meia idade, envergando os seus sapatos chiques de salto alto, ter de espezinhar uma cobra, no jardim de sua casa?
É muito alta se:
- A senhora estiver a chegar de uma consulta médica (esta parte explica os sapatinhos chiques).
- A única pessoa por perto for PFIA maria (esta parte explica a necessidade da senhora meter mãos à obra, que é como quem diz: pés).
- Não se vislumbrar, num raio de vários metros, qualquer objecto de arremesso capaz de aniquilar a bichesa, ao mesmo tempo que ela - desorientada - enceta a fuga em direcção à porta da entrada (esta parte explica o óbito da bichesa por sapateado).
Este episódio horripilante aconteceu por altura do Carnaval, naqueles dias soalheiros.
As temperaturas sobem e a bichesa pensa que está na hora de sair da toca. De esticar os músculos atrofiados, de ver a luz do dia. O que aquela bichesa, em particular, não estava à espera era de encontrar PFIA pelo caminho. Quer dizer, a senhora sua mãe. Mas PFIA tem desculpa: era uma espécie de anaconda com 4 ou 5m... Quer dizer, na verdade era fininha e media praí 30cm. Mas eu queria ver se fossem vocês...
Talvez a bichesa - agora defunta - fosse filha daquela abespinhada que nunca mais foi vista. Me-do!
Além disso, PFIA teve um papel importantíssimo neste cobricídio... Como é que a cobra se desorientava se eu não tivesse dado aqueles gritinhos histéricos? Ah, e também saltei muito. Imaginem as vibrações produzidas no solo... Deve ser coisa para chatear qualquer ser rastejante.
É muito alta se:
- A senhora estiver a chegar de uma consulta médica (esta parte explica os sapatinhos chiques).
- A única pessoa por perto for PFIA maria (esta parte explica a necessidade da senhora meter mãos à obra, que é como quem diz: pés).
- Não se vislumbrar, num raio de vários metros, qualquer objecto de arremesso capaz de aniquilar a bichesa, ao mesmo tempo que ela - desorientada - enceta a fuga em direcção à porta da entrada (esta parte explica o óbito da bichesa por sapateado).
Este episódio horripilante aconteceu por altura do Carnaval, naqueles dias soalheiros.
As temperaturas sobem e a bichesa pensa que está na hora de sair da toca. De esticar os músculos atrofiados, de ver a luz do dia. O que aquela bichesa, em particular, não estava à espera era de encontrar PFIA pelo caminho. Quer dizer, a senhora sua mãe. Mas PFIA tem desculpa: era uma espécie de anaconda com 4 ou 5m... Quer dizer, na verdade era fininha e media praí 30cm. Mas eu queria ver se fossem vocês...
Talvez a bichesa - agora defunta - fosse filha daquela abespinhada que nunca mais foi vista. Me-do!
Além disso, PFIA teve um papel importantíssimo neste cobricídio... Como é que a cobra se desorientava se eu não tivesse dado aqueles gritinhos histéricos? Ah, e também saltei muito. Imaginem as vibrações produzidas no solo... Deve ser coisa para chatear qualquer ser rastejante.
domingo, 20 de fevereiro de 2011
Qual é a pior coisa (mas mesmo a pior) que pode acontecer a uma mulher...
...quando ela fala para uma plateia com mais de trinta pessoas?
Pronto, talvez não seja a pior, a pior, mas o desconforto e a insegurança que a coisa implicou nos primeiros minutos, foi terrível. Já tinha passado aquela fase inicial em que o objectivo é captar a tenção das pessoas, tornar a coisa interessante, fazer com que nos queiram ouvir até ao fim. E de repente... puf! Houve ali um ou dois segundos em que eu parei de falar. Em que pensei «e agora, carago?» - na realidade o pensamento foi mais «e agora, C@R@LHO?!!». As pessoas continuavam a olhar para mim, à espera. Encostei os braços ao tronco e cheguei a pensar que tinha sempre aquela possibilidade de os mexer apenas do cotovelo para baixo. Mas, numa fracção de segundo, pensei também que isso era capaz de me dar um ar de pouca normalidade. Assim, uma coisa a puxar para o esquisito. E naquele momento decidi que o melhor era fingir que nada tinha acontecido e aguentar os restantes 30 minutos que faltavam - mais coisa menos coisa - como uma senhora. Assim como assim, a fruta ainda goza da mesma elasticidade que tinha aos 18 anos, graças aos genes que minha mãe me passou. Portanto, acredito que ninguém tenha reparado naquele momento do «puf», lá em cima, o momento em que o meu soutien se desapertou. :|
Agora percebo aquela técnica manhosa que os nazis tinham de tirar a roupa interior às pessoas, quando as interrogavam. Ó se percebo!
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
Terapia do riso
Sempre me pareceu ridícula a ideia de um grupo de pessoas se juntar para rir. Rir sem vontade? Programar a coisa parece-me esquisito, no mínimo. Como será que funciona? Agora vou-me rir, espera, agora ainda não, mas está quase... Cá p'ra mim riem-se uns dos outros! Olha aquele gajo, é mesmo parvo, está-se a rir sem vontade, ahahahah.
Independentemente disto, há dez minutos atrás percebi o poder de uma gargalhada, ou de várias seguidas. Da energia positiva que deixa dentro de nós, da boa disposição.
Independentemente disto, há dez minutos atrás percebi o poder de uma gargalhada, ou de várias seguidas. Da energia positiva que deixa dentro de nós, da boa disposição.
Obrigada mãe por teres dito aquela parvoíce ao telefone. Sobretudo num dia que foi tão merdosamente medíocre. Ainda me doem os músculos da cara e da barriga. Há muito tempo que não chorava a rir. E tu também não. Por entre as gargalhadas e os "pára" e os "ai, não aguento" lá consegui dizer um "tá bem" quando ela me disse "ligo-te amanhã" - acho que foi isso que ela disse (?). Foi a conversa mais parva que alguma vez tive ao telefone - se é que lhe posso chamar conversa. E, sem sombra de dúvida, a mais divertida! Foi como se tivesse recarregado a bateria, a física e a emocional. E eu que cheguei a pensar em não te ligar...
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
Há muitos anos na “santa terrinha”
Vivia-se mal. Não! Vivia-se muito mal. Tão mal que as pessoas caminhavam descalças na neve durante os meses frios de Inverno, e nas pedras escaldantes da eira nos meses de Verão. Tão mal que, para usarem roupas lavadas, tinham que se deitar, enquanto elas secavam estendidas ao Sol. Tão mal que se alimentavam somente de pão, feito em casa, e de sopa. Nos dias melhores faziam papas, uma mistela com água e farinha para onde depenicavam umas folhas de hortaliça. Os enchidos que secavam no fumeiro da cozinha eram, na sua maioria, para vender. Comiam todos juntos à volta da lareira, uns sentados no escano, outros em pequenos bancos de fabrico artesanal. Não havia luz eléctrica, apenas umas velas e umas gambiarras que eram utilizadas apenas durante a ceia, para poupar petróleo. A refeição terminava não quando todos estavam satisfeitos mas sim quando o pote estava vazio. Um pote grande de ferro que ficava nas brasas da fogueira enquanto a família comia, sôfrega. Primeiro os homens, que vinham cansados dos afazeres no campo, depois as mulheres e as crianças. No meio do silêncio, ouviam-se as colheres bater nas malgas e os animais no piso de baixo, mesmo por baixo do soalho de madeira que sustinha a família.
Terminada a refeição, e apagadas as velas e as gambiarras, recolhiam aos quartos, quando os havia. Os homens certificavam-se de que deixavam as crossas junto da lareira, para enxugarem, durante a noite, os pingos de chuva que absorveram durante o dia. Muitas casas tinham uma divisão central – o sobrado – onde estavam as camas, as camas todas, e o tear, que atravancava ainda mais a diminuta divisão. Em cada cama dormiam várias pessoas, apertadas. Esta era a parte mais comprida da noite, que acabava logo que o dia começava a clarear. Nessa altura já os homens estavam de pé, com as crossas aos ombros e de saída, para guiarem os animais ao monte e seguirem para mais um dia de trabalhos penosos no campo. Quando passavam a soleira da porta ainda mastigavam o pequeno-almoço – um pedaço de pão duro e bolorento. O bastante para aguentar até aquela hora em que as mulheres surgiam no campo com o canistrel à cabeça, com mais um pedaço de pão duro e uma cabaça de vinho. Nos dias bons, acompanhavam meia dúzia de sardinhas fritas, mas os «dias bons» eram os dias em que tinham gente de fora a ajudar no campo, portanto, mais bocas para dividir as sardinhas.
As mulheres trabalhavam o dia inteiro nos teares. Faziam mantas de lã, e toalhas e lençóis de linho para vender na feira. Muitas vezes, as mantas, as toalhas e os lençóis eram para as casas das famílias mais ricas da aldeia, vendidos ao preço da chuva, claro. A falta de escrúpulos dessas tais famílias era mais um problema, a juntar aos outros. Nos dias em que essas mulheres carregavam as mantas e as toalhas à cabeça e iam à feira vendê-las, voltavam com uns tostões no bolso. Faziam os muitos quilómetros, entre a aldeia e a feira, a pé, para poupar o bilhete da carreira, porque os tais tostões já estavam mais do que destinados. Ou eram para abater na conta da mercearia, onde compravam o que não colhiam da terra, ou para pagar ao médico as visitas ao domicílio, por serem muitas as enfermidades dos mais pequenos e dos mais velhos, ou para pagar a uma dessas tais famílias ricas, que emprestavam numa hora de aperto e depois cobravam com juros, ainda a hora de aperto não havia passado.
Às mulheres cabia ainda a penosa tarefa – para além da de cuidar das crias – de ir aos moinhos de água no rio. Nesses moinhos desfaziam-se os grãos de milho e de centeio, com que depois faziam o pão que alimentava toda a família. Viagens infindáveis pelos caminhos de pedra íngremes que separavam o vale do rio das suas casas, no povoado: para baixo com os sacos de granulado à cabeça e para cima com os sacos de farinha, também à cabeça. Ambos muito pesados. Os tempos difíceis levavam a que esses moinhos fossem assaltados de quando em vez. Assim, a mulher que ia ao rio nunca ia descansada. Até podia cantarolar, para esquecer os roncos do estômago vazio, mas qualquer galho de árvore que, casualmente, se partisse fazia-a estremecer. E à noite dormia sempre alguém da família no moinho, para guardar a farinha dos ladrões. Nunca uma mulher, a menos que acompanhada por um dos homens da família. Mas nem todas as famílias tinham moinho. As que não tinham pagavam em géneros pelo uso dos mesmos. Famílias havia que tinham mais do que um. As tais que eram ricas.
Essas tais famílias, que eram ricas, empregavam grande parte dos rapazes e raparigas da aldeia. Os rapazes nas lides do campo e as raparigas nas lides domésticas dos seus casarões. Eram os criados de servir, como se dizia na altura. Esses rapazes e raparigas – irmãos mais velhos de muitas outras crianças – que as famílias não podiam sustentar, saiam de casa não tanto pelo salário mas sim para diminuir o número de bocas que, em casa de seus pais, se sentava à volta da lareira na hora da ceia. Auferiam 50 escudos por ano, 50 escudos que não chegavam sequer a receber. Falando em valores, talvez seja importante esclarecer que me reporto ao final dos anos 50 e início dos anos 60. Escusado será dizer que não havia um único carro na aldeia. Para grandes caminhadas pedia-se um burro emprestado a quem o tivesse. Um burro que hoje carregava sementes agrícolas e amanhã um doente enfermo. O único automóvel que por aquelas bandas passava era o do Senhor Doutor, que vinha quando a gravidade do caso assim o exigia. Quando esse carro desfilava pela rua principal da aldeia, as crianças que entravam em histeria e corriam descalças atrás dele desconheciam, na sua inocência, o que aquilo queria dizer: que alguém estava muito mal, provavelmente, com a vida por um fio. Mas o que as crianças queriam era, simplesmente, ver as suas caras reflectidas nas jantes do automóvel, e rir muito das suas feições magras distorcidas. Uma dessas crianças era a minha mãe.
sábado, 30 de outubro de 2010
Poderes paranormais! Ou, simplesmente, mãe.
Fim-de-semana prolongado!
Pfiazinha prepara uma visita à família (pais, irmão e tia) que não vê desde o final de Agosto. Tem muitas saudades! Pfiazinha não diz à mãe que vai, para fazer surpresa (e não a preocupar), mas faz-lhe tantas perguntas sobre o estado do tempo e as obras na estrada de acesso à “santa terrinha” que a mãe (que é mãe) rapidamente lhe descore a careca!
Mãe de Pfiazinha entra em “panic mode” porque os senhores da televisão dizem que o país está em alerta laranja.
(...)
Pfiazinha desfaz a mala!
(...)
Pfiazinha desfaz a mala!
Nota mental: nunca mais, mas nunca mais mesmo, lhe atendo o telemóvel na véspera das minhas viagens-surpresa para casa!
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