terça-feira, 5 de outubro de 2010

“If you’re going throught hell, keep going…” (*)

Há poucos dias, o Sol deu um arzinho de sua graça (depois de vários dias seguidos de chuva). Resolvi ir passear num parque muito agradável que existe aqui perto de casa. Iria ser bom ver as árvores a vestir as primeiras cores de Outono e sentir o cheiro da terra molhada. Dedicar um pouco daquele dia só a mim, procurar um cantinho sossegado e ficar por ali a receber toda aquela energia da natureza. Seria relaxante e revigorante.
Havia pouca gente no parque, mesmo como eu gosto. Dei uma primeira volta de reconhecimento à procura daquele lugar ideal. Avistei dois jovens aí com uns 16/17 anos que conversavam em pé. Pareciam namorados, muito juntinhos. Não pude evitar aquele pensamento contraditório de mulher-independente-sem-amarras VS mulher-que-passeia-sozinha (vocês sabem qual) … Mas durou, apenas, o habitual nanossegundo - quanto mais numa manhã que se adivinhava tão relaxante como aquela, tão-somente minha. E, no final de contas, é sempre bom ver duas pessoas tão jovens a aproveitar as coisas simples da vida numa fase em que, provavelmente, as agruras típicas da idade adulta ainda não levaram a melhor sobre eles.

Mas nem tudo o que parece é!

Quando me cruzei com o casal, a miúda deixou-se cair no chão devagarinho, enquanto ele a segurava nos braços. Só percebi que não estavam a brincar quando ele, com uma expressão de pânico no rosto, me disse: “Ajude-me, ajude-me!”
A menina jovem e aparentemente feliz tinha acabado de lhe confessar que tinha tomado comprimidos, que queria morrer. Quando se deixou cair no chão estava a desfalecer e ele, apavorado, não sabia o que fazer.
Não sei que comprimidos tomou, nem quantos, nem porquê. A minha preocupação foi mantê-la acordada até o INEM chegar. Ajoelhei-me e dei-lhe a mão. Ela não conseguia falar, balbuciava e dizia que tinha sono. Tinha os olhos semi-cerrados, mas chorava muito!
O rapaz falava ao telefone com a mãe dele. Estava em pânico e procurava conforto na mãe.
Enquanto esperávamos pela ambulância, e no meio de toda aquela angústia, várias coisas me passaram pela cabeça. Senti pena da miúda mas também me apeteceu ralhar muito com ela. Apeteceu-me gritar com as pessoas que estavam ali perto, a assistir de camarote, e que não tentaram ajudar. Nem que fosse só para ficarem junto a nós, caladinhos, à espera.
Fiquei ainda um instante a ver a ambulância afastar-se e depois fui-me embora. As minhas pernas estavam dormentes e as minhas mãos tremiam. Apetecia-me ir para casa.
A minha ida ao parque foi tudo menos relaxante mas talvez me tenha ajudado mais a mim do que à R. e ao amigo.
Quantas vezes, por razões tão insignificantes, eu me zango com a vida e a desprezo, deixando de a viver comme il faut!
A vida é para ser celebrada!
Obrigada R., por me teres lembrado disso naquela manhã, no parque. Ainda sinto a tua mão gelada na minha. Espero que tudo se tenha composto e que nunca mais voltes a fazer semelhante parvoíce.

(*)Winston Churchill

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