sábado, 30 de outubro de 2010

O Preço Certo, em sentimentos.

Lembro-me mal da L.! Era mais velha do que eu, uns 3 anos.
Frequentámos a escola primária da “santa terrinha” na mesma altura. Não era grande estudante, saiu já com idade avançada. Depois de dois anos de escola preparatória, emigrou para França. Não sei se foi lavar escadas ou trabalhar para uma fábrica qualquer. Só sei que nunca mais a vi.
A malta da “santa terrinha” foi sabendo coisas pelas duas irmãs mais novas, também emigradas para França em anos posteriores.
Num ano veio a notícia do casamento. Noutro ano, a do primeiro filho e, nos anos seguintes, o segundo e terceiro filhos. E, mais tarde, notícias sobre a vida desgraçada que tinha, pautada por violência doméstica, problemas económicos graves e muitas horas de trabalho, para compensar os períodos em que o marido, bêbedo, faltava ao dele.
As notícias foram escasseando, ano após ano, depois das irmãs da L. terem deixado de lhe falar.
No Natal passado ouviu-se pela aldeia que a L. não tinha vindo por que não tinha dinheiro para a viagem. “Pobre coitada”, ouvia-se pelas ruas empedradas do lugarejo.
A mãe da L. tinha pouco para dizer. As outras filhas, emigrantes de sucesso, enchiam-na de orgulho e da boca saíam-lhe palavras bonitas, “estas sim!”. Mas sobre a L., nada semelhante, “Essa? Nem dinheiro tem p’ra cá vir!”. A L. tinha pouco tempo de antena, era a ovelha negra da família.
Mas desde a semana passada, o discurso mudou! A mãe choraminga pelas ruas, lamentando a pouca atenção que deu à L., ao longo de todos estes anos. Anda muito arrependida por ter desprezado a filha, por nunca lhe ter dado a mão, “Eu devia era ter-lhe dito para ela largar aquele marido e vir para cá, eu devia ter cuidado dela… os meus netinhos, coitadinhos…”.

Não! A L. não morreu.

A L. ganhou um prémio, em França, de quase 5 milhões de euros! (ainda não sei em quê, mas sei que não foi o euromilhões)

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