domingo, 19 de dezembro de 2010

Perspectivas

Parece que a pequenada já está de férias e, agora, já saem à noite - até às quatro, cinco da manhã. Resultado: num espaço com cerca de três mil pessoas, duas mil e quinhentas tinham, em média, dezasseis/dezassete anos. E é vê-los a dar-nos cotoveladas no copo, a pisar-nos os pés, a interromper conversas porque a “mana” está mesmo atrás de nós (e entretanto já as “manas” gritam entre as nossas cabeças e esticam os braços mesmo à frente das nossas caras), ou então a esmagarem-nos, porque têm mesmo de passar por ali e a multidão não é coisa que não se resolva com um arrastão. Houve mesmo um momento em que me senti tentada a levantar os pés e deixar-me ir, mas tive receio de que a pessoa que falava comigo pensasse que eu era mal-educada e, a custo, lá consegui remar contra a maré e acabar a conversa.

E no meio dos meus pensamentos semi-infanticidas tive, finalmente, um pensamento lúcido: “o que é que eu estou a fazer aqui?”.

Estar aqui - pensei - é mais ao menos como entrar numa tasca pitoresca no Bombarral para telefonar - porque o carro empanou numa estradinha sem cobertura de rede móvel - olhar em redor e pensar “estes gajos que bebem aguardente às nove da manhã são uns labregos”. Mas não! Eles estão no seu "habitat" natural. Eu é que sou a carta fora do baralho.

Digamos que ontem fui, sem dúvida, a carta fora do baralho. Eu e as outras quatrocentas e noventa e nove pessoas com “um pouco” mais de dezasseis/dezassete anos. E sermos aquela pessoa a quem uma garota (que não tinha mais de quinze anos) vem pedir ajuda, porque a amiga está na casa de banho prestes a entrar em coma alcoólica, é a prova cabal disso.

Não sei se sou seu que estou a ficar velha, e com menos paciência, ou se são eles que começam a sair cada vez mais cedo e são cada vez mais mal-educados? Eu prefiro pensar que é a segunda combinação, por razões óbvias.

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